Presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe Xi Jinping em Brasília — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe Xi Jinping em Brasília — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
GERADO EM: 21/11/2024 - 00:01
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Um dia depois do encerramento da Cúpula do G20,grupo das maiores economias do mundo,no Rio,o presidente da China,Xi Jinping,fez uma visita de Estado a Brasília na quarta-feira,e acertou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elevar a relação entre os dois países a “um novo patamar”.
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Os dois líderes falaram em “sinergias”,assinaram 37 acordos,mas dosaram a abertura de novas frentes comerciais. Os documentos assinados incluem a abertura de quatro mercados agrícolas,em vez dos seis que estavam prontos para serem firmados.
A China deu aval,em termos de autorização fitossanitária,para a exportação,pelo Brasil,de farinha de peixe (junto de óleo de peixe e outras proteínas e gorduras derivadas de pescado para ração animal),de sorgo,de gergelim e de uva fresca. Ficaram de fora os acordos para o Brasil vender miúdos de carne,porque não foram finalizados.
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Considerando a demanda chinesa e a participação brasileira nesses mercados,o potencial comercial é de cerca de US$ 450 milhões por ano,estimou o Ministério da Agricultura.
O valor é relativamente baixo quando se considera a relação comercial — a China é,desde 2009,o maior parceiro comercial do Brasil e uma das principais origens de investimentos em território brasileiro.
Embarque de soja em navio graneleiro no Porto de Santos (SP): grão é um dos principais produtos da pauta de exportações para a China — Foto: Patricia Monteiro/Bloomberg
Em 2023,as exportações brasileiras totalizaram US$ 104,3 bilhões e importações vindas da China somaram US$ 53,2 bilhões,um saldo positivo de US$ 51,1 bilhões para o Brasil. Isso equivale a 52% do nosso superávit comercial.
Xi Jinping enalteceu a relação entre os dois países.
— As relações China-Brasil encontram-se no melhor momento na história — disse o chinês,ao lado de Lula. — Nos últimos anos,os nossos dois países passaram a ser amigos de confiança mútua e futuro compartilhado,e atuam como forças positivas que contribuem juntas para a paz.
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Xi Jinping virá ao Peru inaugurar megaporto financiado pela China — Foto: Cris Bouroncle/AFP
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As formas imponentes dos guindastes do novo megaporto de Chancay,ao norte de Lima,refletem a magnitude da infraestrutura financiada pela China que se destina a reforçar a crescente influência do gigante asiático na América Latina — Foto: Cris Bouroncle/AFP
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A obra será inaugurada pelo presidente chinês,juntamente com a sua homóloga peruana,Dina Boluarte — Foto: Cris Bouroncle/AFP
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Situado a 80km a norte da capital peruana,o porto de águas profundas (cerca de 18 metros),cuja construção começou em 2021,terá inicialmente quatro atracadouros após um investimento de 1,3 bilhão de dólares — Foto: Cris Bouroncle/AFP
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O projeto final prevê 15 cais e um investimento total de 3,5 bilhões de dólares. O porto terá uma área de 141 hectares e receberá navios de até 24 mil contêineres — Foto: Cris Bouroncle/AFP
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Um milhão de contêineres chegariam no primeiro ano,estima a Cosco Shipping Ports,concessionária que assinou contrato de 30 anos — Foto: Cris Bouroncle/AFP
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Com 57 mil habitantes,cidade de Chancay receberá o primeiro porto chinês na América do Sul — Foto: Cris Bouroncle/AFP
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O porto fará parte da iniciativa “Um Cinturão,Uma Rota”,lançada em 2013 por Xi Jinping para obras de infraestrutura e ligação entre continentes como uma “nova rota da seda” — Foto: Cris Bouroncle/AFP
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Vários países da América do Sul,como Peru,Argentina,Chile,Bolívia,Brasil,Equador e Venezuela,serão beneficiados — Foto: Cris Bouroncle/AFP
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Em 2019,o grupo chinês adquiriu 60% da empresa peruana responsável pelo porto,escolhido pela sua localização estratégica no centro da América do Sul e pela importância da produção agroindustrial no Peru — Foto: Cris Bouroncle/AFP
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O comércio peruano-chinês foi de cerca de US$ 36 bilhões em 2023,segundo Lima. Ambos os países têm um acordo de livre comércio desde 2010 — Foto: Cris Bouroncle/AFP
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Segundo a Cosco Shipping Ports,o terminal reduzirá o custo de transporte de e para Peru,Colômbia,Equador e Brasil,que não precisarão mais utilizar portos do México e dos Estados Unidos para seu comércio com a Ásia — Foto: Cris Bouroncle/AFP
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A instalação portuária “permitirá à China posicionar-se nesta parte do mundo”,disse o acadêmico Vidarte à AFP — Foto: Cris Bouroncle/AFP
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O terminal contará com tecnologias de inteligência artificial e será conectado à Rodovia Pan-Americana por um túnel de 1,8km — Foto: Cris Bouroncle/AFP
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O Peru fornece matérias-primas e minerais ao seu parceiro asiático,ao mesmo tempo que importa deles bens de consumo — Foto: Cris Bouroncle/AFP
Terminal reduzirá custo de transporte de e para países como o Brasil
O líder chinês também defendeu o que chamou de “verdadeiro multilateralismo”:
— A China está disposta a trabalhar com o Brasil para substanciar constantemente a comunidade de futuro compartilhado China-Brasil e defender firmemente o verdadeiro multilateralismo. Juntos vamos emitir a voz alta da nova era de buscar desenvolvimento,cooperação e justiça,em vez de pobreza,confrontação e hegemonia.
Lula citou a presença de empresas brasileiras na China e vice-versa. Também ressaltou como as trocas comerciais beneficiam os dois países.
O presidente brasileiro ainda antecipou que a BRF deverá investir cerca de US$ 80 milhões para comprar uma fábrica de processados na província de Henan,na China.
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— Queremos adensar a cadeia de valor em nosso território,além de ampliar e diversificar a pauta com nosso maior parceiro comercial. No contexto desta visita,quase 40 atos internacionais foram assinados em áreas como comércio,agricultura,indústria,investimentos,ciência e tecnologia,comunicações,saúde,energia,cultura,educação e turismo — disse.
Integrantes do governo brasileiro reconheceram,nos bastidores,que os acordos comerciais foram menores em relação às parcerias em infraestrutura,por exemplo.
Mesmo assim,a abertura dos mercados para os produtos brasileiros é “uma excelente notícia”,segundo Suema Mori,diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA),pois “os produtores estavam na expectativa”.
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No caso da uva,foram quatro anos de negociação para liberar as exportações,segundo Guilherme Coelho,presidente da Abrafrutas,a associação dos produtores nacionais de frutas. O setor está otimista,disse Coelho:
— Setenta porcento de todas as uvas (exportadas pelo Brasil) vão para a Europa,que tem 500 milhões de habitantes. Imagina um mercado de 1,4 bilhão (de habitantes).
Vinhedo do Grupo Miolo na Bahia,no Vale do São Francisco: maioria das exportações brasileiras de uva,que somaram US$ 179 milhões em 2023,saem de lá — Foto: Divulgação
Em valores,as uvas ficam em terceiro,entre as frutas mais exportadas pelo Brasil. No ano passado,o país vendeu US$ 179 milhões do produto,conforme dados compilados pela Abrafrutas.
Coelho afirmou que os produtores brasileiros têm condições de suplantar a concorrência de outros produtores globais de uvas,como o Chile,a África do Sul e os EUA:
— O grande diferencial é que,no Semiárido Nordestino,sol e água com irrigação. Assim,produzimos uvas o ano inteiro. Chile,África do Sul e Califórnia (nos EUA) têm uma safra por ano.
No caso do gergelim,a produção tem crescido como opção de segunda safra da soja,e a autorização para que a China possa comprar descortina uma nova demanda.
— A história do aumento da exportação agrícola do Brasil está diretamente ligada ao aumento da demanda chinesa — disse Suema,da CNA.
Segundo Welber Barral,sócio do Barral Parente Pinheiro Advogados e ex-secretário de Comércio Exterior do governo federal,a abertura de mercados tende a ter um efeito positivo sobre as exportações de alimentos como um todo:
— Essas aberturas de mercado dão um sinal positivo de atestado sanitário para os produtos brasileiros. Isso é importante para produtos futuros.
A ampliação da lista de frigoríficos autorizados a vender carnes ficou de fora dos anúncios,mas isso já era esperado,mesmo após,em outubro,o ministro da Agricultura,Carlos Fávaro,ter sinalizado com a possibilidade de habilitar mais de dez a 15 unidades produtoras.
Frigorífico da Marfrig no interior de São Paulo: China habilita unidades aptas a exportar uma a uma — Foto: Dado Galdieri/Bloomberg
Em março,38 unidades de processamento receberam autorização,o que levou o total a 144. Na segunda-feira,o próprio ministro Fávaro descartou a ampliação,em entrevista no Rio,ressaltando que “já batemos todos os recordes de habilitações de plantas frigoríficas”.
Esse caso não se trata de abertura de mercados. Brasil e China já têm acordo para venda de carnes no mercado chinês. Só que cada unidade produtora precisa ter sua autorização,após as autoridades chinesas atestarem que as regras sanitárias são cumpridas.
— A habilitação de frigorifico tem uma lista enorme de pedidos e eles (as autoridades chinesas) vão indo na medida deles. O processo é diferente. A carne bovina já é aceita,já tem protocolo,é questão de habilitação (de cada frigorífico) — explicou Suema,da CNA.
Dos 37 acordos,24 foram “memorandos de entendimento” prevendo parcerias em diferentes áreas. Um desses acordos foi com a empresa chinesa SpaceSail,concorrente da Starlink,do bilionário Elon Musk. A companhia chinesa está desenvolvendo um serviço de internet de alta velocidade por meio de satélites de órbita baixa (LEO,na sigla em inglês).
A Starlink é hoje a líder na tecnologia,vista como uma solução para conectar regiões de difícil acesso à infraestrutura de telecomunicações.
O memorando assinado com a estatal brasileira Telebras prevê que as empresas estudem a demanda por internet via satélite em locais que a infraestrutura de fibra óptica não chega,como áreas rurais.
Veja a seguir os principais temas tratados nos 37 acordos firmados entre Brasil e China.
Cooperação em projetos: No lugar da adesão do Brasil à Nova Rota da Seda,foi assinado um acordo de cooperação “para o estabelecimento de sinergias” entre a iniciativa chinesa e planos do governo Lula,como o PAC e a política industrial.Mercados para o agro: A China abriu o mercado local para quatro produtos brasileiros: uvas frescas; gergelim; farinha,óleo e outras proteínas e gorduras de peixe para ração animal; e sorgo. Além de acordo sobre tecnologia e regulação de pesticidas.Ciência e tecnologia: Em pesquisas,os acordos incluem cooperação em estudos sobre indústria fotovoltaica,tecnologia nuclear,radiação,inteligência artificial (inclusive para agricultura familiar) e definição de normas técnicas.Audiovisual: O acordo inclui cooperação no setor audiovisual e de novas mídias. Isso engloba a possibilidade de colaboração na produção de obras audiovisuais,em projetos conjuntos,e na organização de eventos culturais.Indústria e pequenas empresas: Foram firmados compromissos como cooperação em economia circular,sustentabilidade do transporte e geração de energia renovável,além de estímulos para favorecer pequenas e médias empresas no comércio internacional.Concorrente de Musk: Um memorando foi assinado com a SpaceSail,de Elon Musk. A cooperação prevê estudos sobre a demanda de internet em locais onde a fibra óptica não chega,como áreas rurais,e parcerias em inclusão digital.